Tema de apelo nas redes sociais e que centraliza as atenções e o lobby da indústria e do varejo no Brasil hoje, a “taxação das blusinhas” — cobrança de 20% de imposto federal sobre compras em sites internacional de até US$ 50 — quase foi por água abaixo por conta de uma briga paroquial em Alagoas.
O relator do projeto no Senado, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), surpreendeu governo e oposição ontem ao dizer que não levaria o tema à votação no Senado, contrariando o “pai” da matéria no Congresso, seu conterrâneo e presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
A reviravolta enfureceu Lira que, de início, culpou o governo. O presidente da Câmara telefonou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava em agenda fora do país, ameaçando implodir parte da agenda econômica como reação.
Haddad disse que não sabia das intenções de Cunha, acionou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e, resumindo, avisou que a mudança de planos do relator poderia ter consequências trágicas pro governo.
Àquela altura ainda não estava claro, mas horas depois tudo foi esclarecido: a mudança de atitude de Cunha no Senado havia nascido em Alagoas.
Rodrigo Cunha passou a ser cotado para o posto de vice do atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas.
Caldas, conhecido como JHC, foi criatura forjada na casa de Arthur Lira.
O presidente da Câmara foi quem bancou a candidatura de JHC há quatro anos. Mas, hoje, a criatura virou-se contra o criador.
Lira sugeriu três nomes para a vice de JHC. Todos indicados dele com assento no governo. JHC decidiu por outro caminho. Ventilou o nome de Rodrigo Cunha, o relator da “taxa das blusinhas”, para o posto.
Se Cunha se elege vice de JHC e troca o Senado por Maceió, quem assume o mandato dele como suplente é a mãe do atual prefeito, Eudócia Caldas.
Desafiado pelos próprios aliados em Alagoas, Lira reagiu com toda a força que tinha. E obteve dois resultados: 1) O governo Lula, que estava mantendo distância da “taxa das blusinhas” por temor da repercussão, foi obrigado a entrar em campo e defender o tema.
2) Explicitou como a eleição municipal já contaminhou a dinâmica do Congresso Nacional.
No fim, a quase rebelião declarada pela Câmara por conta da disputa em Alagoas virou motivo de brincadeira no Senado.
“Tem uma pessoa que está rindo muito disso tudo”, afirmou um líder do governo. “O Renan Calheiros [adversário de Lira] está sentado na arquibancada observando e levantando duas plaquinhas de hora em hora. A primeira: ‘Eu já sabia’. A segunda: ‘Eu avisei’”.
Em entrevista ao Jornal das Dez na noite desta terça-feira (4), Rodrigo Cunha negou que sua decisão tenha relação com o cenário eleitoral de Alagoas, e disse que o Senado “não teve tempo de maturação”.
/Fonte G1 (Daniela Lima)