Leonardo Ferreira
A agonia dos trabalhadores do Hospital Veredas para receber seus direitos continua sem fim. Novamente já são três meses sem o pagamento correto dos vencimentos: março, abril e maio. Com o desespero dos colaboradores, uma assembleia deve ser realizada para debater possível greve.
Entidades de classe seguem a cobrar respostas da direção financeira da unidade hospitalar, mas as promessas quase nunca são cumpridas, às vezes nem esclarecimentos são dados. Em aflição e aos prantos, uma funcionária, cuja identidade será preservada, apela por ajuda às autoridades.
“Nós estamos trabalhando como se fosse uma ONG. Eles não pagam, só mentem e mentem. Inclusive estou com a ordem de despejo porque não tenho como pagar o aluguel. A gente mal come, não temos dinheiro para nada”, desabafou ela.
Atrasos salariais fazem parte da rotina do Veredas nos últimos anos, com necessidade da intervenção recorrente do Ministério Público do Trabalho (MPT) para minimização da problemática. Em fevereiro, por exemplo, foram pagos os meses de novembro e dezembro de 2022. E assim vai, inexistindo solução definitiva para centenas de funcionários atingidos.
A questão dos ex-funcionários também não tem conclusão. Demitidos no fim do ano passado, eles lutam há seis meses para obter o dinheiro da rescisão. Em novo contato com a Folha, Pedro Igor, que trabalhou anos na instituição, explicou que até agora não recebeu nada, só promessas.
“O procurador do MPT fez a proposta para o hospital pagar a gente em duas vezes, em agosto e setembro. Só que o hospital ficou de dar a resposta até a próxima semana. Mas vai ser mais uma que não vai ser cumprida. Dependendo da resposta, vamos fazer outro protesto”, contou Pedro.
A Folha voltou a entrar em contato com a gestão do hospital, mas não recebeu retorno até o limite desta edição. O Ministério da Saúde, vale citar, destinou R$ 15 milhões ao Veredas recentemente, porém ninguém sabe se o dinheiro já entrou e qual foi a finalidade.
Lira x Renan
O imbróglio envolvendo o Veredas também atravessa a política e a rivalidade entre o senador Renan Calheiros (MDB) e o deputado federal Arthur Lira (PP), que tem sua prima Pauline Pereira, ex-prefeita de Campo Alegre, no comando financeiro do hospital.
Em solenidade em Rio Largo, no fim de maio, Calheiros voltou a detonar a participação de Lira nas indicações para a Secretaria de Saúde de Maceió e o acusou de drenar recursos públicos que chegam ao Veredas, em razão da interferência que tem no hospital.
A gestão do Veredas, por sua vez, diz que só recebeu do Governo do Estado, de Paulo Dantas (MDB), aliado de Renan, apenas R$ 347 mil do total de R$ 19 milhões que a Secretaria de Saúde (Sesau) deve ao hospital. É a disputa política que penaliza diretamente os trabalhadores e a sociedade.